Nós, os adultos, somos imensamente controladores e auto-regulados das nossas emoções e por isso nunca fazemos birras, nunca gritamos, nunca perdemos o controlo. Mas elas sim, que acabadas de chegar ao mundo, seres estes inertes e sem personalidade, se choram é porque fazem birra.
Sim, as minhas filhas, choram, quando são contrariadas, batem o pé quando querem do seu jeito, deitam-se no chão a chorar e a fazer aqueles cenários que ninguém gosta de ver, resmungam que não querem ir ao banho e a mais velha ainda chora quando tem fome, já passou da hora de refeição e ela não conseguiu manifestar a tempo de controlar a imensidão de coisas que se passam lá dentro do seu corpo.
Mas as minhas filhas não fazem “birra”. E não fazem pelo simples facto de que eu não acredito que ela exista, a “birra” é uma simples palavra que descreve a forma como vemos uma contestação/manifestação da criança e a gestão mais descontrolada que ela faz das próprias emoções. E a verdade é que não tem uma conotação assim tão boa. Associamos a que a criança está a fazer aquilo propositadamente só para nos atingir.
Mas uma criança, principalmente mais pequenas, a sua única forma de falar com o mundo e manifestar o seu desagrado é a chorar. É instintivo, é animal, é a forma que elas tiveram para garantir a sua sobrevivência e a de toda a nossa espécie, lá atrás no tempo das cavernas. Onde haviam perigos “reais” e para que ela não perdesse a sua progenitora, ela tinha de chorar para garantir que estava segura. Nos dias de hoje, obviamente os perigos não têm a mesma dimensão, mas compreendendo que a criança só vive no momento presente, ela quando tem fome, tem fome, para ela é como se o mundo fosse acabar, porque não sabe o que está a sentir dentro de si, e então tem de demonstrar, mãe salva-me porque o mundo vai acabar!
Desta forma, talvez sobre crianças mais pequenas, mas conforme crescem, querem mostrar-nos o seu desagrado, a sua forma de pensar, querem mostrar que também são capazes de algo sozinhos e nós não permitimos que o façam ou simplesmente que estão cansados e não sabem lidar com todos aquelas sensações.
Nós ao estarmos a apontar à criança que ela está a fazer uma “birra”, ela pode interpretar aquilo de demasiadas formas, uma delas é que aquilo que ela sente não tem valor e não é aceite no mundo. Há todo um impacto na sua vida por isto. Mas ela só se está a expressar da forma que ainda consegue.
Cá em casa, não acredito em “birra”, acredito em manifestação de uma necessidade ou de uma emoção. Normalmente pode resolver-se com colo, um colo com presença, amor e aceitação pelo que a criança está a sentir.
E afinal, a “birra”, existe na vossa casa?