Mudar a educação, não é o mesmo que vermos a criança

Maria Montessori, dizia-nos que para realmente fazermos algo diferente na educação, precisamos de poder ver a criança.

Enquanto continuarmos a olhar para a educação como ponto de partida para qualquer mudança, estaremos apenas a ver o meio e como tal, apenas sob a única perspectiva do adulto.

Para realmente fazermos a mudança que tanto precisamos na educação tradicional, não precisamos de mudar as escolas, nem o sistema educativo, não pelo menos numa primeira instância. Porque estaremos apenas a mudar aquilo que aos olhos do adulto, baseado nas suas dores, crenças e história precisa de mudar.

Então o que precisamos fazer primeiro?

Precisamos ver a criança.

Hoje bem cedo, refletia sobre a decisão que tomámos de mais uma vez não colocar o nosso filho numa creche (sendo que já é o terceiro), por várias razões. E uma delas é que eu não me identifico com o que acontece num ambiente escolar, muito menos com crianças pequenas. Eu não iria estar bem, não acredito em dias confinados entre 4 paredes, não acredito em atividades iguais para todos, não acredito em ocupar a criança com brinquedos mil e de mil cores, em salas coloridas e dias passados para ocupar o tempo e a lista por aí vai.

Mas daqui questionei é o melhor para mim ou para ele? Estou motivada pelas minhas dores ou pela minha verdade. Bom, felizmente e pela observação que tenho feito tantos dos meus como das crianças ao nosso redor. Esta ainda consegue ser uma decisão baseada no que é melhor para todos nós, por agora.

A criança precisa de ambiente interno e externo, atrevo-me a dizer que cada vez mais externo dado a sua escassez, precisa de trabalho propositado ao seu desenvolvimento, precisa de espaço, tempo e respeito por aquilo que é, precisa de meios para se expandir ao seu mais. E isso não encontramos nas escolas de hoje.

Então voltando ao ponto inicial, o que precisamos de fazer para mudar a educação ou os modos de educar?

Observar a criança.

Aquilo que ela realmente precisa.

E mudar, consoante as suas necessidades. Olhando a sua perspectiva e o caminho que precisa de fazer.

Só assim estaremos de facto a mudar a educação e aquilo que fazemos pela criança.

Partilhem comigo sobre o que observam que seja necessário mudar!

Os 4 planos de desenvolvimento segundo Maria Montessori

No 4º episódio, no Podcast Ler Montessori, li sobre o que Maria Montessori levou para as conferências de 1946 a respeito da imagem que se vê abaixo.

O primeiro objetivo era trazer a imagem, para que visualmente se torne mais claro aquilo que foi lido. E aqui está.

O segundo objetivo é então refletir sobre o que Maria Montessori, nos trouxe, mais do que a explicação prática do seu significado, trouxe-nos as reflexões importantes para a sua aplicação quotidiana.

De forma resumida, este diagrama, traz-nos uma imagem do desenvolvimento de cada ser humano, dividido em 4 fases, do nascimento aos 6 anos, dos 6 aos 12, dos 12 aos 18 e dos 18 aos 24. Nestes planos ainda podemos dividir em cada faixa de 6, grupos de 3 que dão ênfase a períodos de maior desenvolvimento culminando em determinado momento para dar lugar a períodos de descanso. Estes períodos de descanso podemos também percebê-los como períodos de aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos antes. Há um trabalho e desenvolvimento consistente, mas mais pacífico.

Torna-se claro, a importância que ela trouxe a uma faixa etária que até então não era considerada aos olhos do mundo. O esquema abaixo em cinzento traz-nos a comparação crítica que ela sempre fazia questão de trazer à consciência, para entendermos o porquê de métodos comuns não funcionarem.

A educação só começa a ter relevância  a partir dos 6 anos, antes disso a criança não existia para a sociedade. Podemos dizer que aos dias de hoje e graças ao trabalho feito até então, já temos escolas que consideram então estas idades mais tempranas, mas não posso deixar de mencionar, que se tornaram de uma forma generalizada depósitos e não ferramentas de uma ajuda à vida. Por isso, em certa medida, talvez não tenham sido tantos os progressos. Cabe-nos tomar medidas de mudança.

Como podemos observar neste plano, cada fase obedece a um ritmo, a uma lei. Essa lei, chama-se a lei do ritmo. É universal, é natural. Tudo o que conhecemos obedece a um ritmo. Depois de um impulso à vida tão forte como o nascimento e os seguintes 3 anos, há um contrabalanço de calmaria e aperfeiçoamento dos 3 anos seguintes.

Observe-se a natureza; o dia precede a noite, o inverno precede a primavera. Tudo tem o seu ritmo e o seu ciclo. O seu tempo. A cada tempo uma necessidade, uma ajuda necessária. Aquilo que é alimento no inverno será veneno no verão. Um depende do outro, um se prepara para o outro. Assim é na natureza, assim é no ser humano.

Compreendermos estes ritmos é compreendermos que há ajudas necessárias a cada etapa, às necessidades diferentes a serem atendidas e só assim podemos ter uma educação como ajuda à vida. Que respeita uma lei, que se sobrepõe a qualquer outra. Uma lei universal.

Maria Montessori, na conferência faz referência àquele que deve ser o ponto de partida: “ a nossa transformação deve vir do coração”. O centro. Apenas a partir de um centro firme e no devido lugar, teremos a capacidade de incluir os nossos ritmos e por consequência os ritmos da criança.

É no adulto que esta percepção deve ser primeiro tomada, cuidemos dos nossos ritmos, dos nossos momentos de descida que precederá a subida. Conectemo-nos a um ritmo individual,  para depois compreendermos e sermos uma ajuda à vida de quem se cruza connosco.

Para mais detalhes deste plano, já existe informação muito completa e difundida em outros autores que partilho:

https://larmontessori.com/o-metodo/#A_Crianca_no_Metodo_Montessori

Erro e acerto são faces da mesma moeda

Há dias, publiquei um pequeno video sobre erros e tentativas. Como só com tentativas (aos nossos olhos erradas) podemos atingir qualquer nível de melhoria constante.

E ficou a frase: Erros e acertos são faces da mesma moeda, são polos da mesma pilha.

Existe uma lei universal que nos fala, sobre estas polaridades - a lei da correspondência. Diz-nos que tudo o que está acima é como o que está em baixo, tudo o que está fora é como o que está dentro.

Tudo o que vemos num ponto terá sempre o seu oposto complementar. Não existe o dia sem a noite, o frio sem o calor, o feio sem o bonito, o erro sem o acerto. Então, tudo é uma questão de perspectiva, da forma, do ângulo a que avistamos.

Nós avistamos o resultado final, numa mente já treinada para viver no futuro ansiosamente, a criança vê o processo, as conquistas do processo, certeiramente treinada para viver o momento presente.

Quando compreendemos as necessidades de desenvolvimento de uma criança, até no simples facto de vermos as suas quedas quando tenta caminhar pelas primeiras vezes, sabemos que as suas quedas não são erros, são acertos. Acertou ao tentar uma e outra vez. Acertou, porque assim se colocou em movimento e alcançará a perfeição que o objetivo assim exige.

No entanto a criança não está focada em caminhar perfeitamente como algúem da sua referência, pelo menos de forma consciente, ela está a obedecer ao impulso interno, ao seu maestro interno que a conduz no seu desenvolvimento, pois ela apenas vive o momento presente.

Por vezes, achamos as suas tentativas disparatadas, sem proposito, inibindo-as, porque fazemos mais rápido e melhor. A nossa pressa, a nossa ansiedade, por um futuro que não existe…

Todos os dias, eles tentam algo de novo e acertam, não no nivel de perfeição que já alcançámos nós, mas no seu nível de perfeição cada vez mais exata, cada vez mais minunciosa, cada vez mais e mais…

E não nos preocupemos com o resultado final, estaremos no caminho certo se só contemplar-mos os passos dados, os deles e os nossos. Com presença.

A procura por listas de materiais que nos leva a afastar do essencial

A oferta, a informação é imensa.

Montessori virou sinónimo de materiais de todos os tipos para o bebé, para o avô, para o gato e o piriquito.

Mas estas listas, estas respostas fáceis e rápidas, não nos dizem nada sobre Montessori.

Quando precisamos de listas intermináveis e ficamos focados que para ter um ambiente Montessori, ou para dar uma educação Montessoir precisamos de uma lista, já passei ao lado.

Pois esquecemos o mais importante. Observar o SER humano que ali se forma.

Perguntam: quais os materiais eu preciso ter parra o meu bebé, para o meu filho…

A minha resposta será: que criança temos diante de nós? Que necessidades habitam nela? Sejam fisicas, emocionais ou mentais?

Podemos conhecer o desenvolvimento comum, as janelas de oportunidade que se apresentam por fases semelhantes a nivel global. Mas não será a lista que nos vais dizer o que se adequa àquela criança ou grupo.

Tal como a minha maestra nos dixia: não nos interessa apenas os materiais mas sim os seus propósitos.

Diz-me a dificuldade ou a necessidade, dar-te-ei um caminho não uma lista.

Quando o foco no erro, escondem o gigante.

Enquanto sociedade, estamos habituados a ver o erro constante.

Seja em nós mesmos, seja nos outros, seja na criança.

Falta sempre algo, falha sempre algo.

A ambição de procurar sermos melhores leva-nos à evolução. Mas o foco no erro, leva-nos à critica e descontrução das potências que nos habitam.

O mesmo acontece com os nossos filhos. Os pequenos erros que consideramos neles, tiram-nos o foco de ver a sua grandeza, o seu esforço constante de evolução.

Talvez não precisemos de corrigir, mas permitir ser. Serem quem são.

O homem, que construiu coisas maravilhoss ao nosso redor, foi primeiro criado pela criança que antecedeu a si mesmo. A grandiosidade já existia dentro de si.

Deviamos então, colocar as conquistas de cada criança no centro e não os seus defeitos.

Falar, caminhar, gatinhar, sentar, comer por si mesmo, vestir-se por si mesmo… Aos nossos olhos está cheio de falhas, aos olhos da vida, está cheio de conquistas.

Crianças constroem-se a si mesmo

Muito se fala hoje de uma nova educação, de uma nova forma de estar e educar as nossas crianças. Borbulham nos nossos dias, tantas formas de educar e fazer diferente. Mas há princípios básicos que estão muito enraizados na nossa sociedade, princípios esses que enquanto continuarem no nosso campo de solução para dar resposta às necessidades da criança, ficará mais penoso para nós, mas sobretudo para ela mesmo.

Uma das ideias é que a criança absorve tudo, tal como uma esponja, e então somos nós que temos a obrigação de lhe encher essa esponja com os nossos ideiais e moldes de vida. A ideia estará parcialmente certa a execução é que está deturpada.

A criança absorve todo o seu entorno, ela absorve todos os comportamentos ao ínfimo detalhe, mais do que nós adultos conseguimos captar (é das coisas mais maravilhosas que me faz parar para observar), mas ela não precisa de nós diretamente para o fazer. Nós enquanto adultos, fazemos parte do conteúdo mas Não somos nós que enchemos a esponja, é ela própria que se encarrega de o fazer.

Mas ideia de que a criança se constrói dependente totalmente do adulto ainda se mantém na nossa sociedade.

O adulto que se esforça em demasiado para construir e modelar aquele ser incapaz e completamente desadequado à sociedade.

O adulto que abdica do seu tempo e da sua vida para lidar com uma criança pequena, ainda é um transtorno para muitos dentro da nossa sociedade.

Quando tivermos a capacidade de ver a magia que acontece naquele ser psíquico, no seu esforço diário em se construir a si mesmo, em honrar a sua presença, estaremos num bom caminho enquanto humanidade.

Maria Montessori, dizia: "A primeira obrigação do educador é reconhecer e respeitar a criança, a personalidade da criança, seja ela um recém nascido ou um ser em fase de desenvolvimento."

E este respeito começa no momento em que partilhamos a nossa vida com a criança, começa no dia em que lhe permitimos que faça parta dos nossos dias, dos nossos costumes, dos nossos trabalhos diários, no seu ritmo e que possa pertencer ao nosso mundo.

A criança vai sempre procurar suprir em primeiro lugar a sua necessidade de observação.

Ao compreendermos que o que ela faz, tem uma intenção, tem uma necessidade a ser satisfeita, iremos compreender que nada é ao acaso, nada é por capricho ou contra nós. Há sempre uma necessidade, aos nossos olhos pouco importantes aos olhos dela a importância da sua vida.

Mas quantas vezes de forma inconsciente apagamos esse esforço, destruímos essa necessidade; e a criança entra em luta, com o adulto e não porque está contra o adulto, mas porque está numa luta interna para consigo mesma. Ela precisa satisfazer-se a si mesma, mas quer por amor, satisfazer o adulto. E aqui começa a dispersão do que ela é e passa a ser em função dos outros. Aos poucos permitimos que a sua vontade morra.

É cruel, é direto, é impercetível à maioria de nós, mas é o adulto que tem esse papel importante, de trabalhar para que luz se extinga ou de permitir que a luz se esforce para continuar acesa.

Não apague os esboços que a criança imprime à cera de sua vida interior - Maria Montessori

O papel do adulto é o de não se tornar um obstáculo à vida da criança. E para tal é fundamental tomar consciência dos seus conceitos e verdades absolutas errôneas, para se libertar delas e assim poder deixar a criança construir-se a si mesmo.


Texto inspirado na obra de Maria Montessori, Montessori em familia.

9 formas de nos tornarmos guias da criança

Sermos guia das nossas crianças, sem seremos seus criados, nem os seus chefes.

Guiar é diferente de mandar, exigir, esperar obediência cega.

Guiar também é diferente de fazer tudo pela criança, não solicitar a sua colaboração e achar que ela não é capaz e então fazemos nós.

Numa primeira fase acredito que guiar, está mais relacionado com a forma como vemos a criança, quando realmente formos capazes de ver o ser, capaz, que ali existe na sua forma única de se expressar, entenderemos que estamos ao mesmo nível sem confundir papéis.

Nós os pais, eles os filhos, sem permitir-mos que o contrário aconteça, mas também sem deixar que a minha vontade prevaleça sempre e sem razão em cima da da criança.

Guiar a criança é saber que estamos ao seu lado na sua jornada, nem á sua frente nem atrás dela. Estamos ao seu lado.

Daremos a mão quando necessário, mas também permanecemos imóveis e  em silêncio quando tudo em nós (e nos outros) quer intervir.

Plantamos sementes, mas permitimos que cresçam e brotem as suas flores.

Alguns passos e reflexões podem ajudar-nos nesse caminho. é uma constante, é um trabalho diário e que pede consciência plena. Mas é possível.

1º Dar espaço

Dar espaço para que a criança se movimente, explore e seja ela do jeito que tem de ser. Dar espaço para que ela tome as suas iniciativas, demonstre a suas vontades e os seus interesses. Dar espaço.

A criança precisa se sentir livre dentro dos seus próprios limites, há todo o ambiente que lhe mostra os limites, não deverá ser o adulto a fazê-lo, será a função do adulto cuidar para que o perigo excessivo não esteja ao alcance, mas o adulto não controla a criança no seu ambiente ele controla o espaço em que é possível a criança ser livre.

Não só fisicamente, mas nas palavras, nas observações, dar espaço implica o silêncio muitas vezes.

2º Estar disponível

Criarmos com naturalidade uma forma de estar, onde estamos disponíveis mas a criança não depende, mas ela alcança-nos, sempre que necessário. E ela sabe que estamos ali. As tecnologias retiram-nos muitas vezes essa disponibilidade e eles sabem.

3º Ser respeitador, amável e claro na suas expectativas e limites

O guia também é uma pessoa, também tem os seus limites, a criança também. Sermos respeitadores pelo limite da criança e sermos amáveis para lhe transmitir os nossos limites de forma clara e consistente. Quantos mais forem os limites mais confusa ficará a relação, principalmente se estiver em  desiquilíbrio. Definir bem o limite e transmiti-lo à criança de forma amável e firme. Receber os seus limites e aceitá-lo de forma amável e respeitadora.

4º Assumir a sua responsabilidade

Para tudo há uma consequência na vida. Castigo não é opção (falarei deles noutro texto).

Eu não me  fecho num quarto escuro de cada vez que sei que me "portei mal". Eu assumo a consequência do meu ato. Com a criança será igual. Quanto mais direta a consequência mais fácil será ela ligar as duas coisas e da próxima vez se corrigir na forma como está a fazer. Estarmos preparados para guiar a criança é também permitir que ela assuma os erros, não através de nós ou perante a superioridade do adulto, mas de si para si. Ela com o erro dela.

Não dizer sempre como corrigir o erro também ajuda, para que a criança corrija sem medo da reação do adulto, mas porque entende que não está certo a forma como fez.

5º Cuidará do ambiente para que ela prospere segundo os seus interesses e vontades

O professor ensina o que aprendeu, o guia prepara o ambiente para que ela descubra as suas aprendizagens por si mesma.  Ele cuida do ambiente para que este satisfaça todas as necessidades da criança, seja necessidade de aprendizagem ou desenvolvimento, seja necessidade básica de auto-cuidado.

Não é que o guia não faz nada, ele passa a ter a missão de ser um agente mais disfarçado no meio da criança, que atua pelo meio que prepara em vez se ser o centro de atenção da criança. Ele faz muito, faz até mais, mas sem necessidade de reconhecimento.

6º Pára, Ouve e observa

Para que consigamos preparar o seu ambiente, para que possamos estar disponíveis para a criança de verdade, para que essa criança prospere, há que PARAR, OUVIR e OBSERVAR. É um movimento diário, é um momento de si para si mesmo, com o foco de desligar julgamento e achismos e focar no que realmente se vê, a criança.

Pára, sempre que o caos instalou-se mas também sempre que o silencio abunda, mas também e muito importante quando a criança chama por nós, parar e olhar nos olhos.

Ouve, sem julgamento, sem distrações.

Observa, o movimento, a vontade, as reações, as necessidades. Aponta, para que depois haja uma reflexão.

Pessoalmente gosto de refletir sobre as minhas ações ao final do dia, escrever o que senti e o que posso mudar enquanto adulto.

7ª Percebe a intenção antes de reagir

A tendencia é sempre REAGIR. o impulso que brota sem darmos conta. No seguimento do ponto anterior, pára e percebe a intenção. Há sempre uma intenção por detrás de cada ação. e nunca é contra nós ou sobre nós. É sempre por uma necessidade interna que tantas vezes desconhecemos a causa.

Muitas vezes dou conta, de ir reagir a uma determinada ação, quando consigo manter a presença, paro, observo e a maioria das vezes acabo por perceber que a minha reação não iria trazer nada de benéfico, pelo contrário.

8º Ajuda a procurar solução em vez de dar a resposta pronta

Sempre, tanto quanto possível. a criança é curiosa por sua natureza, ela descobre o mundo e o que a rodeia a todo o instante, saciar-lhes a curiosidade dando respostas prontas, além de não saciar a curiosidade ainda gera um dependência de resposta fácil e limitadora, como um lugar de respostas absolutas, cabe-nos levá-los a questionar e a procurar as suas próprias respostas. Este processo pode e deve começar bem cedo. Se permitirmos a criança pequena muitas vezes não pergunta: ela explora; deixar explorar, mexer a terra, parar para observar um insecto é meio caminho para estarmos a permitir que ela encontre as suas respostas.

9º Silenciar


E por último, silenciar. falamos demais, intervimos de mais, interrompemos demais. A criança não precisa. Quanto mais silencio fizermos mais a criança se permite silenciar e fazer o seu caminho por si mesma. Estar com a criança de forma consciente e presente, não significa que precisemos de falar constantemente ou de aprovar o que ela está a fazer, por vezes um simples sorriso que ela possa procurar em nós já diz tudo.

A minha crianças tem me ensidado a ser as suas guias, claramente que é uma travessia cheia de precalçoes e dias menos bons, mas estar consciente do que é importante do que lhes faz bem, a elas e a mim e qual o meu caminho enquanto guia, ajuda-me a por os pés no chão, silenciar e recomeçar.

" ...expressa claramente um desejo comum a todas as crianças de só serem ajudadas por adultos quando esta ajuda for realmente indispensável." Maria Montessori, em Montessori em Familia

Sobre ser individuo...

Antes de serem irmãs elas são indivíduos.

Para mim foi uma grande aprendizagem nos últimos meses, de que elas têm de ter o seu espaço separadas, é caso para dizer, PRECISAM!

Só dei conta depois.

Achava que elas eram unha e carne e que a mais nova como estava habituada a ter a irmã sempre por perto que ia sentir muita falta se a Carlota se ausenta-se por dias inteiros. Mas enganei-me.

Os primeiros dias em que a irmã mais velha passou a ir à floresta (apenas alguns dias da semana), foi estranho sim, ela passou o dia a falar na irmã ou que queria ir à escola com ela.

Mas depressa (mais depressa do que pensei), ela passou a sentir-se melhor assim.

E eu conheci a verdadeira Carminho.

Com calma, só as duas, com muito mais momentos de concentração no seu trabalho, com uma paz de quem não precisa de andar sempre a correr e a brincar ao faz de conta, mas que também precisa calma, de observar, de cozinhar com a mãe e fazer as coisas por si mesma, de ir ao seu ritmo,

Ela passou a querer ficar em casa comigo, porque sabia que tinha o espaço dela, onde podia ser ela.

E foi uma descoberta e tanto (para mim e para ela).

Parece estranho, de como eu não a conhecia, temos sempre essa falsa sensação de que os conhecemos bem e que as suas necessidades estão supridas porque lhes damos tudo. Mas não é bem assim, quando há um irmão mais velho como espelho, a criança vai tentar espelhar-se e imitar em quase tudo. Perde muitas vezes um pouco da sua identidade e nós pais, ficamos sem conhecer as suas reais necessidades porque achamos que é tudo igual.

Desde então que me esforço por ter um tempo individual, um tempo só delas.

Porque são indivíduos e embora pareçam muito iguais e que não vivem uma sem o outra, também precisam de ser só quem são.

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Momento do dia...

Natureza.

De preferência todos os dias.

Faça chuva ou sol, faça luar ou madrugar.

Os dias tornaram-se mais curtos e parece que tudo tem de se ajustar de novo. Os ciclos e rotinas ganham outra vida.

Então mesmo nos dias “quase impossiveis” nós vamos lá. Pé descalço, meia molhada.

E depois voltamos para casa, mais serenas, mais completas e com o dever de mais um dia cumprido.

A natureza deve fazer parte da vida das crianças que tal como a comida que lhes alimenta o corpo a natureza conecta-as com a alma.

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Como nós medimos o tempo dos nossos dias...

Por aqui desde cedo se mostrou importante a noção dos dias. A Carlota pergunta diariamente em que dia estamos, a estação e se é algum dia especial. Gosta especialmente de antecipar o que virá acontecer nalgum dia, como por exemplo, quais os dias de ir à escola ou de ir à natação.

A rotina e a previsibilidade dos acontecimentos sempre foram muito importantes para ela. Até eu perceber e conseguir estabelecer essa conexão, ela andava meio perdida e com muito mais dificuldade em regular as suas emoções.

Já tentámos no passado, criar um calendário DIY, mas acabou por se destruir com a irmã mais pequena, porque estava ao seu alcance. E estivemos demasiado tempo sem um registo.

Neste momento, eis uma exposição de que gosto bastante.

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Está por cima do nosso sofá, não é um quadro exuberante numa sala majestosa, mas é o local onde elas chegam com facilidade sem ocupar demasiado outras paredes e para mim está ótimo assim.

Como a nossa “sala de aula” é mesmo na nossa sala, onde tudo acontece, então é mesmo aqui que escolhemos ficar e observar a passagem dos nossos dias.

Este é um recurso em inglês, disponibilizado gratuitamente pelo blog https://www.freeandunfettered.com, ainda pensei em traduzi-lo uma vez que a Carlota se encontra no período sensível da linguagem, mas tudo certo assim, ela adora ouvir e estar em contacto com outras línguas, por isso creio que seja mais uma oportunidade de aprendizagem.

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No calendário, viajamos nos dias em numeração, em dias da semana, em meses e em estações do ano, visíveis pelas imagens associadas a cada mês. Aproveitei para identificar também datas especiais como aniversários e o natal.

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Como esta é a nossa parede do tempo, adicionei um boletim meteorológico, para que possam registar o estado do tempo atual. Talvez no futuro surjam mais coisas para colocar na nossa parede do tempo, como medição de temperatura, ou rotinas semanais. Vou adicionando conforme os seus interesses!

Mais alguém a medir a passagem do tempo?

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